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Milton Nunes Loureiro por Selma Patti Spinelli (Fev/2006)

 

Nasceu em Campos, Estado do Rio, no dia 9 de junho de 1923. Filho de Oscar de Barros Loureiro e de Dona  Antonia Nunes Loureiro.

 

Advogado, poeta, trovador e jornalista.

 

Bacharelou-se em 1956 pela Faculdade de Direito de Niterói, dedicando-se à carreira pública no estado fluminense, tendo exercido o cargo de Delegado de Polícia, quando se transferiu de Cantagalo, cidade onde se casara e residira por vários anos, para Niterói onde se radicou, ao lado de sua esposa e musa, a querida Edmir.

 

É aqui, que a sua biografia vai se entrelaçando com a História da Trova no Brasil, e do movimento Trovístico onde  sua figura eminentíssima se destaca.

 

Suas Trovas são simples e diretas, deixando entrever sua alma pungente e singela; talvez por conta dessa característica, ninguém, como ele, cantou a infância com tanta propriedade e tantas vezes:

 

Ora a nostalgia da Infância, como nessas Trovas:

 

Não há no mundo beleza

que supere a da criança.

Mesmo triste, sem riqueza,

no riso traz a esperança.

 

Entre o presente e o passado

há intransponível distância;

se não, teria voltado

aos tempos de minha infância.

 

Infância sempre querida,

de sonhos e alacridade...

Mesmo triste e bem sofrida,

como desperta saudade!

 

Infância é doce quimera,

que às vezes nos traz alento.

Mas, depois de muita espera,

quanta angústia e sofrimento!

 

Crianças, que em seu cristão sentido de justiça, revestido da ira santa dos fiéis, por vezes, o fazem indagar ao céu, numa revolta construtiva:

 

Certas crianças, Messias,

que puseste em nossos chãos,

olham tristes, de mãos frias,

os caprichos de outras mãos...

 

O que é miséria? Indagaste,

criança de alma singela.

_ é fel que nunca tragaste,

pois de Deus tens a tutela.

 

Miséria é coisa bem triste,

que a muita gente maltrata.

É como uma lança em riste,

que fere, trucida e mata.

 

Aliás, essa trilha da justiça que tanto palmilhou seus passos, salta da biografia pessoal para a história daqueles tempos do delegado romântico que queria consertar o mundo. E daí às estorietas um tanto  engraçadas. Conta-se que, ao chegar a Petro polis... (lá se vão mais de quarenta anos), a cidade das flores recebeu- o de braços abertos, celebrando o delegado-poeta; logo, sua primeira batida policial desbarata uma armação pesada, onde figuras da sociedade estavam  envolvidas. Ele recebeu um telefonema irado de um  dos grandões,  que  intercedia por dois membros. Enquadro todo mundo! ou soltarei a todos!  Respondeu. E naquela cidade que o recebia com flores, ficou apenas quarenta e oito horas... Foi removido!

 

E assim são muitos, os casos, pelas cidades do seu estado, Nova Iguaçu, Saquarema. Jamais transigia em seus princípios, mas era criativo e inovador nos métodos... (como aqueles presos fantasiados de mulher, varrendo a calçada num carnaval!...). São inúmeros os casos em que o personagem Milton deixa revelar uma verve ao mesmo tempo romântica e algo insinuante.

 

Aliás,  seu humor gaiato se deixa  entrever nos casos que conta , muito mais, porque as suas piadas de humor são poucas e até ingênuas.E muito boas!!!

 

Por cisma, namoricando,

bem longe, na escuridão,

prima Zefa está engordando...

e diz que é superstição...

 

De fato, sua personalidade se revela, no seu trato fraterno, que o distingue como um dos mais humanos trovadores. Sociável, foge da solidão:

 

Não se esquive da saudade ,

procurando a sós ficar.

A solidão, em verdade,

mais aumenta teu penar...

 

Não repilas, meu amigo, 

quando alguém te der a mão:

 como é bom se ter abrigo,

como é triste a solidão!...

 

O que mais sabe ser: Sociável e romântico.

 

Andava triste, isolado,

ferido no coração.

Encontrei o ser amado,

foi-se a minha solidão. 

 

Madrugada das serestas,

de estrelas e de luar;

corações se unindo em festas,

conjugando o verbo amar.

 

Romântico muito bem alimentado por sua Musa, sua esposa Edmyr, companheira de todas as horas; ela, pintora de grande sensibilidade, nossa grande irmã dos trovadores, amorosíssima e muito querida.

 

E mais qualidades eu teria a discorrer; porém devo ressaltar o papel crucial da presença de Milton Nunes Loureiro na história da trova brasileira.

 

É a realização dos Jogos Florais de Niterói, que em 2010, completaram 40 anos.

 

Sem dúvida ,ponto alto das nossas comemorações, os festejos de Niterói galvanizam a energia de todos: muitos são os obreiros desse sucesso: a começar pela cidade acolhedora e terna, pelo envolvimento do mundo cultural fluminense, pela diligencia dos trovadores da seção que não medem esforços para receber a todos.

 

Festas bonitas, assistimos muitas pelo Brasil afora. Mas o grande feito de Milton é a persistência; mais que persistir, superar-se a cada ano , cada vez mais com esforço e dificuldades.Resultando cada vez mais brilho! Luz, que o Presidente  da seção foi buscar  nos caminhos de sua fé católica, na benção que ele conseguiu junto ao Pontífice da Igreja Católica, o Papa João Paulo II aos trovadores do Brasil. 

 

Grande cavalheiro, gentil, generoso, desprendido, o nosso trovador em foco  reluz pela sua obra em prol da trova. E se revela por inteiro nesta trova, que a todos irmana, palavras que agora vamos fazer nossas:

 

Por ideal, trovadores,

em nossos jogos florais,

somos todos vencedores, 

semeando amor e paz!

 

 

     + Em tempo: Milton Nunes Loureiro faleceu em 31 de janeiro de 2011 deixando a Trova e os trovadores, órfãos; hoje é Luz. É saudade imorredoura... 

​© 2015 por Selma Patti Spinelli.

UBT Seção São Paulo - SP

 

 

Expediente do Informativo: Selma Patti Spinelli,

 

Edição do Site: Selma Patti Spinelli, Tel (11) 5561-2730

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