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União Brasileira de Trovadores
Seção São Paulo - SP
"A Trova, acima de tudo, faz amigos!" (Izo Goldman)
Luiz Otávio por Izo Goldman
Texto Apresentado na Reunião Julho/2006
Luiz Otávio, nascido a 18 de julho de 1916 no Rio; e falecido a 31 de janeiro de 1977 em Santos, SP.
Pseudônimo de Gilson de Castro, filho do dentista Octavio de Castro e sua primeira mulher, d. Antonieta Motta de Castro, ingressou em 1934 na Faculdade de Odontologia, na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Formou-se em 1936, mas não pode exercer de pronto a profissão, pois adoeceu vitimado pela tuberculose. Só em 1939, já curado, ingressou na profissão. Manteve consultório particular e foi, por vinte anos, chefe da seção de Odontologia do Hospital da Aeronáutica dos Afonsos, no Rio.
No período em que esteve doente, Gílson escreveu poesias, Trovas e letras de música. E, com o pseudônimo de Luiz Otávio, teve sua primeira Trova publicada pela revista "O Malho" em 23 de abril de 1939.
O pseudônimo que iria acompanhar Gílson de Castro pelo resto da vida foi uma homenagem ao pai Octávio. E o Luiz entrou por motivo eufônico.
A primeira grande influência e incentivo que teve Luiz Otávio para se dedicar à Trova veio de Antonio Joaquim Pereira (1876 1944), que conheceu em 1938 na Fazenda Manga Larga, em Pati do Alferes (RJ), durante sua convalescença.
Pereira da Silva, ilustre poeta simbolista paraibano, em 1939 aproximou Luiz de Adelmar Tavares, alcunhado de Príncipe da Trova Brasileira, e o resultado imediato foram as "Adelmarianas", trovas em resposta a algumas de Adelmar.
Tão significativo como trovador foi o trabalho de Luiz Otávio visando sensibilizar os trovadores do país a se unirem em associações. Com um mimeófrago , adquirido em 1948, ele passou a imprimir suas Trovas, comentários de livros recebidos e circulares, que enviava a colegas, aos jornais e revistas.
Na década de 1950, com um grupo de amigos, recolheu farto material junto a cantadores e repentistas nordestinos, violeiros de São Paulo e Minas Gerais e pageadores gaúchos. Depois, fundaram o Grêmio Brasileiro de Trovadores.
Em 1956, publicou "Meus Irmãos, os Trovadores", coletânea de duas mil Trovas de diferentes autores, "marco inicial do Movimento Trovadoresco Brasileiro propriamente dito", na afirmação de Carolina Ramos.
"No Congresso Brasileiro de Trovadores e Violeiros, realizado em 07/09/1960: Príncipe dos Trovadores do Brasil, título que só aceitou sob a condição de que Adelmar Tavares e Lilinha Fernandes fossem proclamados Rei e Rainha da Trova" (Carolina Ramos).
Em 18 de julho de 1960, a Assembléia Legislativa do Rio aprovou a proposição do deputado Gama Lima instituindo o Dia do Trovador.
Como nos conta Carolina Ramos, Luiz só tomou ciência do fato quando não mais podia demover o deputado de seu intento. Luiz tinha preferência por 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos poetas.
A 8 de janeiro de 1966, Luiz Otávio fundou a União Brasileiras de Trovadores, a partir da qual, com a ajuda de centenas de colegas conseguiu instituir duzentas Seções e Delegacias da UBT por todo o Brasil.
Depois, a UBT foi presidida por Carlos Guimarães, que substituiu Luiz Otávio quando este se viu impossibilitado de continuar o movimento trovadoresco. Conta com três mil associados e promove concursos nacionais e internacionais por ano, com a participação de trovadores de Portugal e de países da América do Sul e África.
Apesar de ter que se dedicar à profissão de cirurgião-dentista e depois exercer a liderança do movimento trovadoresco nacional, Luis Otavio ainda encontrou tempo para dar vazão à sua vocação poética. Ao nos deixar, em 1977, tinha publicados os seguintes trabalhos: "Saudade... Muita Saudade" (1946), "Um Coração em Ternura", "Trovas" (a terceira edição teve acrescida a versão francesa feita pelo poeta Osmar Barbosa), "Meus Irmãos, os Trovadores", "Cantigas de Muito Longe" (vertida para o Italiano e o Alemão em 1961), "Meu Sonho Encantador" (1959), "Cantigas dos Sonhos Perdidos", Mensagem aos Trovadores Brasileiros" (1961), "Trovas ao Chegar do Outono" (1965) e "Decálogo de Metrificação" (1975). Deixou ainda em preparação "Sublime Angústia" (sonetos e trovas), "São Francisco, Padroeiro dos Trovadores" (estudo biográfico) e "Viagem pelo Mundo da Trova", gravado em Santos, para onde se transferira em 1973, e que Carolina Ramos considera uma coleção, dado que ali estão quarenta anos de estudo e pesquisa sobre a trova.
Luiz Otávio recebeu os títulos de cidadão Pousoalegrense e Friburguense e conquistou 150 troféus, medalhas e diplomas, provindos de todos os Estados brasileiros, Portugual e Angola, os quais doou à UBT em 1975. Em 73, ao mudar-se para Santos, ele fez doação à Academia Santista de três mil volumes de sua biblioteca particular.
Fez esse incansável lutador mais de uma centena de palestras registradas.
Não desejo nem capela
nem mármore em minha cova...
Apenas escrevam nela...
pequenina e humilde trova.
Meus sentimentos diversos
Prendo eu versos te pegou
- Quem na vida deixa verso
Parece que morre menos...
Luis Otávio foi, no dizer de Carolina Ramos, um poeta todo coração, que se entregou à Trova por inteiro, "difundindo-a, estudando-a e divulgando-a com dedicação e carinho de verdadeiro enamorado". O que foi reconhecido por inúmeras pessoas que dele se acercaram. E tanto isso é verdade que a Prefeitura de Santos concedeu-lhe, postumamente, a Medalha de Mérito Cultural.
Tirem-me tudo que tenho
neguem-me todo o valor!
- Numa só glória me empenho:
a de humilde Trovador...
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Beija-te o sol, o luar
cheios de amor e desejo.
Vive o vento a te beijar!
Só eu é que não te beijo.
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A Trova tudo nos conta
de coisas belas nos fala;
basta alma para fazê-la
e ouvidos para escutá-la.
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À força, sem sentimentos,
não se faz a Trova, não!
No entanto, sai num momento
quando vem do coração.
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Há olhos para a Gramática.
Há olhos para a Razão!
Mas lendo a Trova é preciso
ter olhos no coração!
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Há Trovas de tal beleza
prendem tanto os versos seus,
que a inspiração, com certeza,
deve ter vindo de Deus.
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Minhas Trovas são amigas
nos sonhos não sucedidos;
eu me consolo em Cantigas
que são dos Sonhos Perdidos.
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Vida Mistério profundo!
Quem dirá da nossa sorte?
Que haverá depois do mundo?
Que haverá depois da morte?
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Saudade, um sonho desfeito
uma angústia... um não-sei-quê;
este vazio em meu peito
todo cheio de você.
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A trova recende a rosas
e sabe a favos de mel;
e é tão pequena que cabe
num cantinho de papel...
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Por mais que na vida amemos
com loucura e intenso ardor,
jamais nos esqueceremos
do nosso primeiro amor...
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Semeia sempre com calma!
Ajuda a planta a crescer!
E eleva mais a tua alma
deixando os outros colher!
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* Material cedido por Domitilla Borges Beltrame. O "Trovador em foco" é apresentado pelos Trovadores em todas as reuniões mensais. Palestra realizada pela Trovadora Selma Patti Spinelli.
