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Babo Filho por Selma Patti Spinelli (Janeiro/2011)

 

Quando a Livraria Freitas Bastos lançou a Coleção Trovas e Trovadores, o nosso Trovador em Foco de hoje já aparecia no vol. 7 com seu Cantiga das horas vagas; e depois publicaria o seu Ao correr das horas. Estou falando de Octávio Babo Filho, ilustre carioca de uma família ilustre. 

 

Ele pertenceu à velha guarda da Trova, com todo o nosso respeito: nasceu em 20 de julho de 1915 e nos oitenta e sete anos bem vividos, foi, não só, o ilustre advogado do Fórum do Rio de Janeiro, mas querido cancioneiro popular, tendo suas músicas entoadas não só no Rio, mas no Brasil.

 

Quem já não cantou essa valsa natalina:

 

BOTEI MEU SAPATINHO

NA JANELA DO QUANTAL.

PAPAPI NOEL DEIXOU

MEU PRESENTE DE NATAL.

 

COMO É QUE PAPAI NOEL

NÃO SE ESQUECE DE NINGUÉM

SEJA RICO OU SEJA POBRE

O VELHILHO SEMPRE VEM!

 

Pois é! Mesmo gozando de grande prestígio, seja como advogado ou como artista, Octávio Babo Filho era, no dizer dos que o conheciam bem, verdadeiramente um simples. E essa simplicidade o impedia muitas vezes de fazer Trova, tarefa que ele considerava das mais difíceis!

 

Até... que em 1960 desencabulou: foi classificado entre os dez primeiros colocados do I Jogos Florais de Nova Friburgo; e isso lhe abriu o caminho definitivo do sucesso na Trova. Eis a premiada:

 

 

SE TÔDA GENTE SOUBESSE

COMO CUSTA QUERER BEM,

QUANTA GENTE GOSTARIA

DE NÃO GOSTAR DE NINGUÉM.

 

Ao lermos suas Trovas, podemos constatar que o conteúdo de suas mensagens revela muito de sua vida profissional de cidadão preocupado com a Justiça.

 

Eu perdi muita amizade,

defendendo injustiçados.

- É que o vento da maldade

sopra de todos os lados.

 

Por que será que você,

tendo os defeitos que tem,

os seus defeitos não vê,

vendo os dos outros tão bem?

 

A facilidade imensa

com que os homens são julgados

simboliza bem a crença

de sermos todos culpados.

 

Nascemos sentenciados:

Os que vierem se vão.

E nem somos informados

do dia da execução...

 

Mas quando o conteúdo, não há dúvidas que seu tema mais presente é Mulher, a qual reverencia com carinho e algum temor, e também com uma certeira ironia:

 

Toda mulher tem seu quê,

tem um encanto qualquer.

Não tendo, é o que a gente vê

naquela que a gente quer.

 

Gosto de môça formosa,

sabendo embora o perigo

- Eu não desprezo uma rosa,

temendo o espinho inimigo...

 

A mulher  sempre as mulheres 

na pobre história de um homem:

A primeira me deu vida,

mas as outras me consomem...

 

Protegido pelo manto da modéstia, como se pode ver nestas Trovas:

 

Poeta mau  não conheço,

mau poeta  ah, isto sim!

Conheço e digo onde mora:

bem aqui... dentro de mim.

 

Nunca porfia de dois,

eu chego sempre em segundo.

Mas não reclamo depois:

há sempre um lugar no mundo.

 

... o nosso Trovador usa o refúgio do sonho, outro tema bastante presente, e que nos traz essas visões:

 

Não nos feneçam os sonhos,

deles precisamos tanto!

Mudam pensares tristonhos

e secam fontes de pranto.

 

Teus encantos, criatura,

mexeram tanto comigo

que eu vivo da desventura

de sonhar sempre contigo...

 

Dormindo eu me disponho

alcançar o que desejo,

pois sem dormir  eu não sonho

e sem sonhar  não te beijo.

 

Penetrei fundo demais

no poço das ambições.

Vejo, agora, o mal que faz

um sonho sem proporções.

 

Homem religioso, sua Fé se manifesta em Trovas como esta:

 

Esta Fé que hoje me invade,

traz tanto alento à minha alma

que, dentro da tempestade

sinto a natureza calma!

 

... mas interessante notar que é justamente no tema Fé que encontramos o mais sentimental lírico e apaixonado:

 

Ao Criador rendo graças,

pela graça, que me deu,

de me sentir, quando passas,

dono do que não é meu.

 

Os santos de antigamente

só foram santos, porque,

conhecendo tanta gente,

não conheceram você...

 

Não lhe adivinhando o nome,

batizei-a de Maria.

E o remorso me consome:

nunca vi tanta heresia!

 

Não encontrei Trovas propriamente humorística na obra de Octávio Babo Filho; encontrei sim, um fina ironia ao brincar com temas profundos:

 

Se a morte nos avisasse

a respeito do seu dia,

não creio que nos matasse:

a gente é que morreria...

 

Se querer fazer mistério

de coisas tão triviais:

- É na paz do cemitério

que vivem todos em paz...

 

Enquanto os povos discutem

a teoria da paz,

os mais fracos se desnutrem

e os mais fortes comem mais...

 

... ironia sábia, a que transparece de um poeta que, acima de tudo, é um homem de bem com a vida:

 

 

Quanta alegria semeia

quem vive sempre contente:

- A felicidade alheia

também faz feliz a gente.

 

As desventuras da vida,

eu não as conto a ninguém,

pois mágoa, que é transmitida,

se multiplica por cem.

 

Escolhi Octávio Babo Filho para resgatar uma característica que muito preza nas Trovas.... a simplicidade, da forma e o dizer o que pensa. Sem dúvida, tarefa difícil, mas não quando se é verdadeiro.

 

Não é só honetidade,

mas simples sabedoria:

convém fazer da Verdade

o esteio de todo dia.

​© 2015 por Selma Patti Spinelli.

UBT Seção São Paulo - SP

 

 

Expediente do Informativo: Selma Patti Spinelli,

 

Edição do Site: Selma Patti Spinelli, Tel (11) 5561-2730

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