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Jesy Barbosa por Zálkind Piatigórsky

 

JESY BARBOSA, filha do jornalista e poeta Luiz Barbosa (ambos campistas), nasceu em Campos, Estado do Rio, em 15 de novembro de 1915. Espírito versátil e sensível, desde cêdo deixou patenteado seu temperamento artístico, tendo iniciado sua atuação em 1930, na Cidade Maravilhosa, onde também estudou. Dona de excepcional talento e de uma voz diferente, sua primeira expressão foi através do canto, tendo estreiado, sob os auspícios do saudoso Roquete Pinto, na Rádio Sociedade, no Rio, gravando a seguir inúmeros discos com canções brasileiras na R.C.A. Victor.

 

Paralelamente, iniciava-se na arte de escrever, fazendo-se presente em jornais e revistas de então.

 

Deixando mais tarde o canto, onde tanto se destacou, foi durante nove anos redatora e apresentadora de programas na Rádio Globo, da Guanabara; tendo sido uma das sócias fundadoras da Associação Brasileira de Rádio (A.B.R.).

 

Mas a plenitude de seu espírito criador só veio a amadurecer um pouco mais tarde, quando Jesy Barbosa, participando do movimento trovadoresco nacional, encontrou, nas quatro linhas da trova, o seu verdadeiro veículo de comunicação.

 

Mesmo assim, faltava-lhe um estímulo. Mas, predestinada para as cumieiras da arte do coração, êste não se fêz tardar. Apareceu sob a forma de um concurso de trovas. De um grande concurso de trovas  Os Primeiros Jogos Florais de Nova Friburgo  genial idéia de Luiz Otávio que os introduziu no Brasil, para isto contando coma cooperação e o dinamismo do consagrado poeta J. G. de Araújo Jorge. E Jesy apareceu. E apareceu ganhando, conseguindo, entre mais de 2.500 trovas concorrentes, o 4.° e 6.° lugares, pondo seu nome com letras de ouro entre os vinte vencedores. Era uma grande estrêla, luzindo no meio de uma constelação.

 

Duvidas que numa trova

eu encerre o nosso amor?

Na hóstia tu tens a prova:

Não cabe Nosso Senhor?

 

Teu orgulho me parece

estranha contradição:

Nosso amor, que te engrandece,

é a minha humilhação.

 

Excepcional em tudo que se refira ao que é de dentro, o seu amor filial conseguiu a ventura desta constatação:

 

Surpreendente maravilha

A que agora me acontece!

­- Minha mãe é minha filha

a medida que envelhece!

 

Nestas Cantigas de Quem Perdoa descobrimos que a meiga Jesy não perdoou o mundo. Na verdade, ama-o demais. E quem ama, não chegando a sentir a ofensa, desconhece a necessidade do perdão.

 

Rio, março de 1963.

 

Era o milagre da sensibilidade, o triunfo do talento, a consagração da beleza. Era fôrça do coração atingindo alturas sublimes nesta composição.

 

És rico... Mas que tristeza!

Tens vazio o coração...

Não ter amor é pobreza

mais triste que não ter pão.

 

Era a poetisa Jesy que se descobria. Uma fonte límpida e incontrolável de água pura que corria sob o sol, sorrindo à libertação.

 

Suave flor em festa em alto cume, em breve Jesy superou-se e repetiu-se. E, em 1962, nestes mesmos Jogos Florais de Nova Friburgo que evoluíram como a própria escritora, entre mais de 5.000 concorrentes, alcançou o 1.° lugar com magnifica trova sobre ciúme:

 

Quanto mais teu corpo enlaço.

mais padeço o meu tormento

por saber que o meu abraço

não prende o teu pensamento.

 

Não só por êsses triunfos em competições públicas, mas por todo o conjunto de sua obra, hoje, é indubitável ser Jesy Barbosa um dos mais admirados e autênticos nomes representativos da poesia trovadoresca da língua portuguêsa.

 

Extremamente feminina  a mais feminina de quantas poetisas exercitam-se no idioma  suas trovas são bem o claro-escuro incompreensível e meigo e doce da alma da mulher:

 

A maior impiedade

daquele que me magoa

é mostrar que, em realidade,

não vale a pena ser boa. 

 

É uma queixa. Mas sua queixa é suave como pétalas que tombam. E na saudade, a saudade do vulto amado é mais que um milagre do coração:

 

Tenho tua imagem tão viva

e tão dentro do meu ser

que, quando que rever-te,

fecho os olhos para ver.

 

Poesia-conformação, poesia-ternura, Jesy Barbosa é sentimento, E, sobretudo, poesia-verdade, verdade clara e profunda, simples, sem contradição:

​© 2015 por Selma Patti Spinelli.

UBT Seção São Paulo - SP

 

 

Expediente do Informativo: Selma Patti Spinelli,

 

Edição do Site: Selma Patti Spinelli, Tel (11) 5561-2730

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